Lipedema Day amplia conscientização sobre doença muitas vezes não percebida
O evento, considerado o maior em nível nacional, ocorre em 17 municípios brasileiros ao mesmo tempo
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Siga noA fim de melhorar a conscientização sobre o lipedema, a Associação Brasileira de Cirurgiões Plásticos (BAPS) promove, neste sábado (14/6), o Lipedema Day 2025. O evento, considerado o maior em nível nacional, ocorre em 17 municípios brasileiros ao mesmo tempo. A programação inclui roda de conversa com profissionais de saúde, prática de atividade física (funcional, yoga, dança, spinning, mobilidade, alongamento), interação e troca de experiências e distribuição de cartilhas informativas, além de momentos de confraternização entre pacientes, familiares e especialistas.
Não à toa o evento acontece em junho, Mês de Conscientização do Lipedema. Desconhecido e pouco falado até pouco tempo, o lipedema tem ganhado cada vez mais destaque na mídia e entre médicos e pacientes. Hoje sabe-se, por exemplo, que o tratamento da doença é multidisciplinar e não deve consistir apenas na realização da lipoaspiração.
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“Caracterizado pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros, principalmente em áreas como quadril e pernas, o lipedema deve ser tratado, inicialmente, por um cirurgião vascular, mas o acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedistas e cirurgiões plásticos também é fundamental”, explica a cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Aline Lamaita.
E apesar de ser uma doença crônica, isto é, sem cura, o lipedema, atualmente, pode ser controlado de maneira eficaz graças a novas estratégias terapêuticas que têm surgido conforme a conscientização sobre a doença aumenta.
O lipedema não é uma doença rara, afetando 12,3% das mulheres brasileiras. Mas, ainda assim, a condição é pouco conhecida, tanto por pacientes quanto por médicos. “Isso leva à falta de diagnóstico ou diagnósticos incorretos, o que atrasa o início do tratamento, aumenta a progressão da doença e, consequentemente, faz com que a paciente sofra física e emocionalmente”, explica a cirurgiã plástica membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SB) e da Associação Brasileira de Lipedema (ABL), Heloise Manfrim.
“O agravamento do quadro pode levar a dificuldades de locomoção, linfedema, disfunções circulatórias e até problemas ortopédicos”, alerta Aline Lamaita, que reforça que, pela falta de informação, a paciente com lipedema, frequentemente, a a vida como ‘falsa magra’, isto é, magra da cintura para cima, mas com pernas grossas.
“A mulher acredita que esse é o padrão de corpo familiar, já que o lipedema pode afetar várias mulheres da família, então não pensa que pode ser um problema. A crença de que se trata de um quadro de celulite, obesidade ou então retenção de líquido é outro motivo da demora para buscar auxílio médico”, acrescenta a médica.
E, mesmo quando procuram um médico, não é incomum que se deparem com um diagnóstico incorreto, pois muitos profissionais ainda não consideram a doença como uma possibilidade, afirmando que se trata de obesidade.
“Além das complicações, um diagnóstico inadequado pode causar frustração à paciente, pois, além de crônico, o lipedema tem como característica o acúmulo de uma gordura doente que, geralmente, não responde às mudanças de hábitos, como dieta e prática de atividades físicas, comumente adotadas em casos de obesidade”, aponta a cirurgiã vascular.
É importante prestar atenção aos sinais do lipedema e, ao notá-los, buscar um médico. “Os sintomas da doença incluem: aumento simétrico do tamanho dos membros, principalmente das pernas e quadris, apesar de também afetar os braços; dificuldade de perder peso, principalmente na parte inferior do corpo; sensação dolorosa ao toque; aumento da frequência de hematomas espontâneos; e maior tendência ao acúmulo de líquidos”, diz Aline Lamaita, que encoraja que as pacientes busquem uma segunda opinião médica caso suspeitem do problema.
“Hoje já existem algumas diretrizes que ajudam no diagnóstico, mas, por ser uma doença de tratamento multidisciplinar, é necessário que o médico se dedique a estudar o problema e entenda as várias áreas de conhecimento necessárias para direcionar as pacientes de maneira adequada”, acrescenta a médica.
De acordo com Heloise Manfrim, o tratamento da doença envolve, além do cirurgião plástico, profissionais como endocrinologistas, nutricionistas e cirurgiões vasculares.
“Apesar de estar relacionada a fatores hereditários e hormonais, a doença ainda não tem causa definida e, logo, não tem cura. Mas é possível aliviar os sintomas e controlar a evolução da doença para impedir o surgimento de complicações. Sabemos que o tratamento cirúrgico pode ajudar, mas deve sempre ser acompanhado do tratamento clínico conservador, que tem como base quatro pilares: dieta anti-inflamatória, atividade física específica para lipedema, terapia física complexa e protocolos medicamentosos específicos para a doença”, explica a cirurgiã plástica, que é autora do livro Lipedema: uma abordagem além da superfície.
Heloise explica que a lipoaspiração ganha cada vez mais espaço, inclusive para impedir a progressão da doença. “A cirurgia só é indicada quando a paciente já fez o tratamento clínico por mais de seis meses e não apresentou melhora ou quando a paciente tem uma queixa estética muito mais importante do que a queixa funcional”, diz a médica.
O tratamento com lipoaspiração é especialmente interessante para aliviar as dores causadas pelo lipedema. “Além disso, a cirurgia também diminui a largura dos membros afetados. A técnica utilizada vai variar de acordo com cada caso. Por exemplo, quando a retirada da gordura tem altas chances de resultar em flacidez, podemos realizar a lipoaspiração com plasma, que aquece e provoca uma retração na pele, o que diminui a flacidez do tecido”, completa a cirurgiã plástica.
Os resultados do procedimento no tratamento do lipedema são satisfatórios e duradouros. Mas, apesar da maior parte da gordura ser retirada, pode restar uma pequena quantidade de células adiposas doentes que ainda possuem a capacidade de acumular gordura, segundo a médica.
“Logo, ainda que a lipoaspiração ofereça bons resultados e o processo natural de emagrecimento não tenha grande impacto sobre as áreas afetadas pelo lipedema, a adoção de um estilo de vida saudável é indispensável para potencializar a ação do procedimento e impedir que a doença evolua novamente”, explica a cirurgiã plástica.
Antes e após a lipoaspiração é necessário incluir bons hábitos em na rotina, como praticar exercícios físicos regularmente, ingerir pelo menos dois litros de água por dia e manter uma alimentação balanceada, consumindo uma grande quantidade de frutas, legumes e verduras e evitando alimentos processados e ricos em gordura, sódio e açúcar.
A médica acrescenta que o lipedema é uma característica constitucional que pode ser modificada com atividade física, alimentação adequada, medicação e, em alguns casos, meias de compressão. “Além disso, é essencial o tratamento de outras patologias associadas, como varizes e pressão alta, para evitar complicações.”
Antes de optar por qualquer tipo de terapia para a condição, a consulta com um médico especializado é fundamental. “Além disso, o lipedema é de difícil diagnóstico, sendo constantemente confundido com obesidade, pois não existem exames específicos para identificação da doença. Cabe então ao médico durante a consulta de avaliação diagnosticar o lipedema corretamente por meio dos sinais clínicos, recomendando assim o tratamento mais adequado para cada caso”, reforça Heloise Manfrim.
O Lipedema Day acontece em Aracaju (SE), Araraquara (SP), Curitiba (PR), Dourados (MS), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), João Pessoa (PB), Leopoldina (MG), Maceió (AL), Manaus (AM), Palmas (TO), Primavera do Leste (MT), Rio de Janeiro (RJ), São José do Rio Preto (SP) São Paulo (SP), Sorocaba (SP) e Vitória (ES).
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