BH tem 'point' das perucas e extensões capilares; saiba onde é
Local apresenta aumento de lojas especializadas em extensão capilar. Alopecia e tratamento contra o câncer estimulam consumo
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Siga noO comércio de extensão capilar, que envolve perucas e apliques para aumentar o volume ou o cumprimento dos fios, é hoje o principal empreendimento da Galeria Ouvidor, no Centro de Belo Horizonte – a mais antiga da capital mineira. No ano ado, o estabelecimento comercial completou seis décadas de existência. São 23 lojas de 'cabelo', entre as 245 disponíveis. Somente no último ano, sete novas lojas foram abertas.
As entidades de classe do comércio não têm explicações oficiais sobre esse crescimento, mas a mais antiga proprietária de uma loja de cabelos na galeria, fundada em 1998, tem uma aposta. Segundo Cleuza Fernandes dos Reis, 59 anos, o crescimento desse comércio está diretamente ligado à moda, mas principalmente devido ao aumento de moléstias que provocam queda de cabelo.
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“A maioria das pessoas que nos procuram ou perderam o cabelo devido a tratamento contra o câncer ou por causa da alopecia. A procura de pessoas com esse diagnóstico cresceu muito depois da pandemia”, diz. A percepção de Cleuza é respaldada em estudos internacionais, que apontam o crescimento dos casos de câncer em todo o mundo e também um aumento generalizado de queda capilar desde a pandemia da Covid, em 2020.
Se antes, conta Cleuza, que começou a tecer perucas ainda criança, a procura tinha por objetivo apenas variar o visual ou esconder a calvície masculina, hoje ela tem a ver com a autoestima das pessoas, principalmente mulheres, que enfrentam algumas dessas doenças. Apesar desse aumento pela procura, a confecção das perucas e dos mais variados tipos de apliques e extensões de cabelo segue sendo feita de maneira artesanal, em uma técnica que a de geração para geração. Cleuza aprendeu com sua mãe, Dirce Fernandes dos Reis, 81 anos, a tecer os materiais e hoje, além de produzi-los para vender, também dá aulas para quem quer se aventurar no ramo.
“É um mercado realmente promissor, porque quando a gente está triste dá aquela ajeitada no cabelo para ficar mais alegre. Quando estamos felizes, arrumamos para ficar mais ainda”, diz. O público de seu empreendimento, conta Cleuza, é majoritariamente feminino, mas a procura por apliques capilares para homens tem crescido.
Também dona de uma loja de extensão capilar, a empresária Benigna Oliveira está no ramo há 11 anos, também seguindo uma tradição de família. “Eu comecei com as minhas primas, que mexiam com cabelo, tecendo as perucas e montando. Depois, decidi montar meu próprio negócio”, afirma.
Para ela, além de sustento, o mercado também é muito “bacana”. “É que nosso trabalho mexe com a autoestima das pessoas, muitas delas ando por fases difíceis por causa de problemas de saúde. Então, poder fazer esse trabalho é muito legal”, diz. Benigna também afirma que seus principais clientes são pessoas com câncer ou alopecia.
Tipos de extensão
O aumento da procura, segundo as empreendedoras, também tem contribuído para a elevação do preço da matéria-prima principal e mais cobiçada para a confecção das perucas e apliques: o cabelo natural.
Na capital mineira, lojas ao redor da própria Galeria do Ouvidor compram cabelo natural por valores que podem chegar até R$ 1 mil reais, dependendo do tamanho, da textura e da naturalidade do cabelo, já que os fios sem tratamentos químicos têm mais valor. Mas, de acordo com Cleuza Reis, as lojas também compram cabelos naturais vindos da Índia ou de tribos indígenas.
Outra opção, explica Cleuza, são os cabelos chamados orgânicos, geralmente feitos de fibra de algodão ou de seda. “Mas, os melhores mesmo são os cabelos naturais, que duram muito e podem ser pintados e escovados”, conta a empreendedora.
Os cabelos naturais usados mais disputados no mundo todo para a confecção de perucas e apliques, conta Cleuza, são os brasileiros. “É que os cabelos indianos, por exemplo, são muito iguais, quase todos sempre muito lisos. Os cabelos brasileiros são muito variados, por isso a procura é tão grande e eles são tão valiosos”, afirma.
O preço também varia muito entre o natural e o orgânico, podendo ter uma diferença de até 10 vezes mais. Mas, de acordo com Benigna, a duração do fio natural é muito maior.
A produtora cultural Gabriele Souza é uma das clientes de extensão capilar da Galeria Ouvidor. Ela gasta cerca de R$ 250 por mês para dar manutenção no seu aplique feito de cabelo natural e usado para aumentar o volume e o cumprimento. “Quem usa não dá conta de ficar sem. É viciante”, conta.
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Contrabando nas rodovias
A Receita Federal brasileira tem registrado aumento do contrabando de cabelo natural. Sem citar dados desse aumento, o órgão apreendeu este ano, em uma rodovia do Paraná, 188 quilos de cabelo humano contrabandeado dos países vizinhos. A carga foi avaliada em R$ 380 mil e foi apreendida durante uma operação de fiscalização nas estradas.
“Altamente procurado pela aplicação em diversos setores, como indústria cosmética, moda e extensões capilares, a demanda por cabelo natural tem sido bastante elevada. Porém, a importação de cabelos humanos é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e para ingressar no país é preciso cumprir as rígidas exigências sanitárias”, informou a Receita.