Mineradora quer voltar a operar com 100% da capacidade em Mariana até 2028
Com mineração retomada parcialmente a partir de 2020, após paralisação por desastre, empresa planeja operar a plena capacidade com investimento de R$ 13 bi
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Siga noA Samarco anunciou que pretende voltar a operar toda sua estrutura de produção da planta de Germano, no município de Mariana, no Quadrilátero Ferrífero, a partir de 2028. No entanto, esse retorno pleno depende da aprovação de um investimento de R$ 13 bilhões pelo conselho de istração da empresa, que pertence à Vale e à BHP Billiton. O aporte seria aplicado imediatamente após a aprovação e levaria a mineradora a uma produção de 26 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro em 2028.
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Toda a produção da Samarco ficou paralisada por cinco anos, desde o rompimento da barragem do Fundão, no dia 5 de novembro de 2015, que despejou 56 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e deixou um rastro de destruição nas comunidades próximas (Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, ambos no município de Mariana, e Gesteira, em Barra Longa) e ao longo da bacia do Rio Doce, com reflexos até na foz, no Espírito Santo, alcançando o Oceano Atlântico. Considerado o maior desastre ambiental do país, o rompimento causou a morte de 19 pessoas.
A mineradora voltou a operar em dezembro de 2020 com um investimento de R$ 650 milhões, retomando 26% de sua capacidade e produzindo algo em torno de 8 milhões de toneladas de minério de ferro. Em 2024, com um aporte de R$ 1,6 bilhão, a capacidade produtiva foi elevada para 60%, alcançando 15 milhões de toneladas de pelotas.
Para voltar a operar com 100% da capacidade, será preciso revitalizar a usina mais antiga da Samarco, construída em 1977, o que também compreende a aquisição de novos equipamentos, contratação de mão de obra e a implementação da etapa da filtragem. Foi esse processo que permitiu que a mineradora voltasse a operar sem barragens de rejeitos de minério de ferro, separando a parte líquida das sólidas.
Rejeitos são filtrados
Cerca de 80% do rejeito são de areia (sílica), material que é compactado em taludes. A estrutura ainda recebe uma vegetação que serve tanto para ajudar na fixação, quanto no reflorestamento. De acordo com a Samarco, essa estrutura é estável. Os 20% restantes do rejeito são chamados de lama, partículas muito finas misturadas com água, material que é colocado em uma cava, local que já foi escavado e é cercado por rochas que retém esse material.
Já existem pesquisas em curso para reduzir o percentual da lama como rejeito, mas, de acordo com a empresa, a cava usada atualmente tem capacidade de armazenamento até 2028. Uma segunda cava já está disponível, podendo ser usada até 2036.
Sobre as duas barragens que restaram em Germano após o colapso do Fundão, uma já foi completamente desmontada, enquanto a outra foi 80% descaracterizada, tendo a parte geotécnica finalizada, restando o trabalho de recomposição ambiental, processo que deve ser totalmente concluído em 2026. Atualmente, todas as estruturas geotécnicas do Complexo de Germano são monitoradas em tempo real pelo Centro de Monitoramento Integrado (CMI), infelizmente implementado só depois do rompimento da barragem.
Hoje, a Samarco conta com aproximadamente 3 mil funcionários próprios e 14 mil terceirizados. Esse último número é expressivo devido aos trabalhos envolvidos nas reparações. Quando ar a operar com toda sua capacidade produtiva, a mineradora espera ter algo entre 5 mil e 5,5 mil funcionários diretos, número parecido com o que tinha em 2015 somando as unidades de Minas Gerais e Espírito Santo (Ubu, em Anchieta).
Sistema de filtragem foi implementado a partir de 2020, quando a empresa voltou a operar sem barragem
Balanço de seis meses da repactuação
Dentro dos acordos de reparação de 2016, a Samarco deixou de atuar diretamente nas ações, ficando essa tarefa a cargo da Fundação Renova. Já no acordo de repactuação e reparação firmado no fim de 2024, a fundação foi extinta, e as ações voltaram para a responsabilidade da empresa em dois grandes blocos: as obrigações a fazer e a pagar.
O acordo totaliza R$ 170 bilhões, sendo que R$ 38 bilhões já foram pagos até setembro de 2024 com ações próprias e da Renova. As obrigações a pagar, ou seja, que serão executadas pelo poder público, mas custeadas pela Samarco, estão calculadas em R$ 100 bilhões, que devem ser quitados ao longo dos próximos 20 anos para financiar políticas nas áreas de saúde, pesca, infraestrutura, mobilidade, educação e assistência social, dentre outras, na bacia do Rio Doce. Já as obrigações de fazer estão orçadas em R$ 32 bilhões e também têm prazos definidos.
Sobre as críticas de que esses 20 anos de obrigações a pagar, Rodrigo Vilela classifica como “fundamental para que esse dinheiro possa ser utilizado de forma sistêmica durante um período longo, que ultrae vários ciclos eleitorais. Que não seja um dinheiro que seja colocado de uma só vez no território para que as ações sejam sustentáveis e de longo prazo”.
A Samarco divulgou um balanço dos seis primeiros meses do acordo de repactuação, período em que foram desembolsados R$ 10 bilhões. Desse total, R$ 4,9 bilhões foram reados diretamente aos entes públicos, incluindo as primeiras parcelas pagas aos municípios que aderiram ao acordo. Já as ações sob responsabilidade direta da mineradora totalizaram R$ 5,1 bilhões, destinados às indenizações, reassentamento e ações ambientais.
Samarco garantiu que até setembro todas as casas e equipamentos públicos do Novo Bento Rodrigues estarão prontos
Novo Bento Rodrigues
A Samarco garantiu que, até setembro, todas as casas e equipamentos públicos do Novo Bento Rodrigues estarão prontos. A exceção são as moradias de seis famílias que demoraram a escolher seus projetos. O atraso de cinco anos na entrega do reassentamento foi justificada pela empresa, sobretudo, pelo modelo colaborativo adotado, onde as famílias tiveram o tempo que queriam para aprovar seus projetos, que foram individuais. Foi a repactuação que estabeleceu um prazo para os assentados definirem os projetos.
De acordo com a empresa, mais de 180 famílias já estão morando no reassentamento, em torno de 650 pessoas. A reportagem foi o "Novo Bento" e não avistou morador nas ruas, apenas trabalhadores da construção civil, dezenas em cada construção. De acordo com Rachel Starling, gerente-geral dos assentamentos da Samarco, os moradores estariam no velório de um morador, na quadra poliesportiva.
No entanto, segundo relato de Darlisa das Graças Eusébio Azevedo, proprietária do Bar da Una, que também serve almoço, seus clientes são, basicamente, os trabalhadores da construção civil. Ela conta que não eia muito pelo novo povoado. Apesar dos assentados terem mantido no projeto uma localização e vizinhança semelhante ao Bento Rodrigues original, Darlisa não manteve o posicionamento anterior porque morava de aluguel. Ainda assim, como a diretriz do assentamento visava atender o direito de moradia, ela, que à época do rompimento da barragem tinha um lote no local, recebeu uma casa no reassentamento.
Quem exercia alguma atividade de comércio continuou o trabalho no Novo Bento Rodrigues, caso de Darlisa, que tinha um bar e ou a istrar o restaurante. A Associação dos Hortifrutigranjeiros de Bento Rodrigues (AHOBERO), que fabrica geleia de pimenta biquinho, também teve a estrutura de produção assegurada no reassentamento, e ainda aguarda a conclusão do canteiro para cultivar as pimentas. O reassentamento ainda conta com açougue, pizzaria, sorveteria, oficina mecânica, mercearia e uma venda de mel.
Dentre os equipamentos públicos, o novo povoado tem em funcionamento uma escola municipal, centro de saúde com consultas marcadas em áreas como odontologia e saúde mental, guarda municipal, estações de tratamento de água e esgoto, posto dos Correios, centro de apoio ao morador, e transporte público quatro vezes por dia.
O projeto também manteve a localização das igrejas católicas, ao alto a Igreja das Mercês e na parte baixa do povoado a de São Bento. Ainda existe uma Igreja Universal. O único equipamento público que ainda não foi construído foi o cemitério. Os sepultamentos ainda estão sendo realizados no povoado original, já que o cemitério não foi atingido pelos rejeitos da barragem do Fundão.
Reparação ambiental
Dentre as ações de reparação ambiental das áreas atingidas pelos rejeitos de minério de ferro, o programa de reflorestamento deve atingir uma área de 51 mil hectares, dos quais 41.100 estão cercados e protegidos, e 25 mil já foram plantados. A empresa ainda é responsável pelo desenvolvimento dessas árvores até atingir determinado estágio de crescimento. Das 5 mil nascentes que devem ser recuperadas ao longo do Rio Doce, 3.716 já estão cercadas e protegidas.
Outro ponto importante no Plano de Recuperação Ambiental - que inclui o detalhamento das ações a serem realizadas pelas autoridades até o ano de 2040 - é a definição da viabilidade da retirada adicional de 9,15 milhões de metros cúbicos de rejeitos que ficaram no lago da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, que só voltou a operar em 2023.
“Posso afirmar que o Rio Doce hoje está em condições muito melhores do que estavam antes do rompimento em função de todo o processo de limpeza que ocorreu nos últimos nove anos, do programa de recuperação de nascentes que já foram feitas. Além de estar em condições melhores, por óbvio, ele é tratável e consumível”, garantiu Vilela, ressaltando o tratamento sanitário. As ações de recuperação ambiental vão continuar com as obrigações a pagar do acordo da repactuação, além do compromisso da Samarco monitorar o Rio Doce até 2039.
Destinação dos R$ 100 bi via poder público (obrigações de pagar)
- R$ 38,83 bi - Diretamente aos atingidos (sem considerar indenizações)
- R$ 16,13 bi - Aplicados diretamente na recuperação ambiental
- R$ 17,66 bi - Socioambientais (indiretamente aos atingidos e meio ambiente)
- R$ 15,29 bi - Saneamento e rodovias
- R$ 1,66 bi - A Mariana
- R$ 6,1 bi - Municípios (adesão)
- R$ 1,86 bi - Institucional, transparência e outros
Balanço de 6 meses de Acordo de Reparação da Bacia do Rio Doce
- R$ 10 bi - total destinado à reparação nesse período
- R$ 68,4 mi - recebidos pelos 26 municípios que aderiram ao acordo
- R$ 4,9 bi - reados a entes públicos
- R$ 5,1 bi - aplicados diretamente pela Samarco em indenizações, reassentamentos e ações ambientais
- R$ 1,4 bi - pagos a 14,9 mil pessoas (até 9/5/25)
- R$ 326,3 mi - pagos a povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais
- R$ 35 mil - mais de 21 mil pagamentos individuais no PID (Programa Indenizatório Definitivo)
- R$ 95 mil - pagamentos individuais do Sistema Agro-Pesca
- 93% dos imóveis nos reassentamentos concluídos ou indenizados
- 95% dos equipamentos públicos entregues nos reassentamentos
- 41,1 mil hectares com área cercada e protegida (82% da meta)
- 3.716 nascentes cercadas e protegidas (74% da meta)
- R$ 285 mi - destinados ao monitoramento da biodiversidade aquática
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